Diversidade
A história do dia internacional das mulheres por um viés interseccional

02/03/2021 1225

No dia 8 de março de 1917, cerca de 100 mil mulheres lotaram as ruas do Império Russo protestando por melhores condições de trabalho, aumento dos salários e o fim da participação russa na Segunda Guerra Mundial. Porém, foi somente 58 anos depois que a Organização das Nações Unidas aprovou a resolução que transformava o 8 de março no Dia Internacional da Mulher, graças à pressão dos movimentos feministas que eclodiram nos anos 60, popularmente conhecidos como ‘Ondas Liberais’.

No Brasil, o movimento ganhou força durante as décadas de 1920 e 1930 com o movimento das sufragistas, que foi atendido por Getúlio Vargas ao promulgar a Constituição de 1932, instituindo o direito ao voto feminino

A principal pauta dos movimentos feministas que originaram a data era a luta por melhores condições de trabalho e igualdade salarial perante os homens, demanda que até hoje não foi alcançada. Entretanto, com a chegada dos anos 2010, a luta feminista ganhou novo fôlego, dominando as redes sociais e atraindo cada vez mais jovens, que retomaram a pauta interseccional dentro do feminismo.

Para explicar, a interseccionalidade refere-se à análise de outros fatores juntamente com a questão de gênero, como a raça e a classe social. É desse movimento que surgiu o feminismo negro, o feminismo radical e a diferenciação desses para o feminismo liberal. Apesar de todas as mulheres terem lutas em comum como a desvalorização do trabalho doméstico, a cultura do estupro, a desigualdade salarial e o descrédito intelectual, os diferentes tipos de feminismo são importantes para agrupar e acolher mulheres com vivências únicas.

Mulheres negras, além de sofrerem com os problemas citados, sofrem com a hiperssexualização de seus corpos e uma forma ainda mais violenta de desvalorização, impulsionada pelo racismo. A ideia de que “o feminismo luta para que todas as mulheres tenham emprego” não se aplica à população negra, tendo em vista que desde os tempos do Brasil Colônia as mulheres negras eram forçadas a trabalhar nas casas ou no campo. Vale destacar que ainda hoje isso é uma realidade que pode ser percebida quando analisamos a situação das empregadas domésticas, que precisam cuidar de suas casas e de outras famílias para conseguirem se manter. 

Grande parte das empregadas, que são negras e moram nas periferias da cidade, lutaram durante anos para serem incluídas nas leis que regem a CLT para terem direitos como salário mínimo, férias, licenças e seguro desemprego. Apesar da aprovação da PEC das Domésticas em 2013, que garante todos esses direitos para as empregadas, hoje a grande maioria delas ainda não é contemplada pela lei graças à insistência dos empregadores em não assinar suas carteiras de trabalho. 

Remontando à própria criação da data, o dia deve ser uma lembrança da luta constante e diária das mulheres pela valorização do seu trabalho, frente a um mercado que ainda é dominado por homens. Na busca pela inclusão e permanência, as mulheres se deparam com barreiras como a sexualização de seus corpos, falta de reconhecimento de suas capacidades profissionais e a exclusão (em casos de mulheres que são mães). 

Nós, como sociedade civil, temos o dever de ajudar as populações em vulnerabilidade social dando base para que essas pessoas consigam subir na pirâmide social. As mulheres representam a maior força de trabalho do país, enfrentam jornada dupla de trabalho - em casa e no trabalho formal - e ainda são responsáveis, muitas vezes sozinhas, pela educação e cuidado dos filhos

É necessário que as classes mais privilegiadas da sociedade lutem por melhores condições para essas mulheres, como igualdade salarial, enfrentamento ao machismo, oportunidades semelhantes e, uma discussão ainda mais geral, sobre a divisão de tarefas dentro do lar, onde a mulher não fique totalmente responsável pelo cuidado da casa e ainda seja obrigada a trabalhar fora para garantir o sustento da família.

Referências:

https://www.nicajacarezinho.org/

Negras ganham menos e sofrem mais com o desemprego do que as brancas

Número de domésticas bate recorde, mas é o menor com carteira desde 2012

https://www.atados.com.br/ong/grupo-nos-do-morro

Movimento sufragista

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